E uma velha muito sábia,
Muito digna,
Nessa casa,
Cheia de quartos e quinas,
Viverá esta velha,
Arquivelha que sou eu.
Será uma casa silenciosa
Onde realizarei trabalhos simples
Como acender lampiões
no fim da tarde.
Será uma casa quase casulo,
Onde aceitarei as condições da existência,
Tecerei fios de seda
Em direção ao infinito.
Será uma casa resistente
Capaz de suportar blocos gigantes
Que desabem
Em avalanche
Sobre o teto.
Nessa casa
Serei cada vez mais antiga,
Prudente,
Erudita,
Fiel ao espírito que me agita
E ao qual cedi a palavra.
Nessa casa
Nada perturbará a alma de meus ancestrais,
A atmosfera de prece:
Vida que se cumpre
E desaparece.
Raquel Naveira
In: "Casa e Castelo". São Paulo: Escrituras, 2002. p.51,52.
Essa poesia me toca tão profundamente.
Para superar adversidades que enfrentei desde cedo,
precisei ser menina e velha ao mesmo tempo.
Na verdade, acho que nasci arquivelha e agora estou rejuvenescendo...