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O Mês de Abril, a Páscoa e o Feminino Sagrado - Parte 2

E então, lembram da Deusa do Paraíso?



Pois é...Muitos séculos depois, surgiram povos semitas no oriente médio que adoravam a Rainha do Paraíso, também chamada de Asherah ou Astarte; e o seu consorte, o Deus do Trovão.

Este Deus, por simbolizar o Trovão, não era representado em imagens, somente através da luz do relâmpago e do fogo, e seu nome composto de quatro letras (IHVH) era impronunciável (posteriormente, na Bíblia, seu nome foi traduzido como Iavéh ou Javé ou Jeová).

No Renascimento, Michelangelo o representou na Capela Sistina:

Aos poucos eles foram abandonando a Deusa do Paraíso e adorando somente ao Deus JavéSó que o Deus isolado de sua contraparte feminina foi se transformando num Deus severo… como podemos ver no Velho Testamento.

Estes povos deram origem aos hebreus e a uma nova religião: o judaísmo


Posteriormente esse povo foi escravizado no Egito, e através de uma longa saga protagonizada por Moisés, foi libertado exatamente no dia 14 do mês de Nissan de 1280 A.C. (que coincidia com a época das festividades pelo renascimento da natureza). 

Eles passaram a comemorar esta data não apenas como um renascimento da natureza, mas também como um renascimento espiritual, a Festa da Libertação, chamada de Pesach (Páscoa, em hebraico). 


Séder de Pesach/ Ceia de Páscoa

Muitos séculos depois surgiu um homem sábio chamado Jesus de Nazaré, que também era judeu e comemorava todas as festividades de sua cultura, como o Pesach (Páscoa). A Santa Ceia ou a última ceia de Jesus foi exatamente a celebração da Páscoa judaica. 



A vida de Jesus deu origem a uma nova religião: o cristianismo. E nos seus primórdios, não havia comemorações do nascimento e nem da ressurreição de Cristo. Os discípulos se concentravam apenas em compreender e praticar seus ensinamentos.

Só que à medida que a religião foi se propagando, buscando novos adeptos, foi incorporando outros costumes, tentando dar-lhes uma roupagem cristã.

Portanto, ao chegar no continente europeu, as festividades de honra às Deusas pelo renascimento da natureza, que coincidiam com a época da ressurreição de Cristo e  da libertação dos hebreus, foram incorporadas ao calendário cristão.

Mas a Deusa continua entre nós através de seus antigos símbolos (ovos e coelhos), que permaneceram mesmo após tantos séculos… e apesar de várias metamorfoses, a essência desta celebração não mudou!

Que  possamos nos lembrar disso e buscar a renovação externa e interna, que cultivemos nosso  jardim com esperança pela nova colheita e pelo desabrochar das flores da alma.
Feliz Páscoa! 



Para ver a primeira parte, clique aqui.



O Mês de Abril, a Páscoa e o Feminino Sagrado - Parte 1


Afrodite/Vênus


O nome do mês de abril, foi originariamente inspirado em Afrodite (ou Vênus), a Deusa da Beleza e do Amor, pois é o mês em que as flores desabrocham na primavera do hemisfério norte, a neve derrete e a terra se abre para receber as sementes. Posteriormente, os romanos passaram a chamá-lo de Aprilis.

Esta palavra vem de Aprire, que significa abrir, lembrando um atributo pouco conhecido desta Deusa: o de guardiã do portal da vida. Ela era representada nua, com as mãos apontando para seus genitais, a passagem que permite à alma “abrir a porta da vida”. E desde tempos imemoriais, o ovo simbolizava o surgimento desta nova vida.


Ostara


Para os anglo-saxões, este mês chamava-se Easter Monath, que  até  hoje é mantido na palavra inglesa Easter (Páscoa). Este nome era em honra à Deusa da Primavera e da Fertilidade chamada Eostre. Os celtas a chamavam de Ostara. O coelho é o símbolo desta Deusa.

Bast

Os egípcios, cananeus e fenícios também batizaram este mês em honra a Deusas . No Egito este mês era dedicado à Bast, a Deusa solar com cabeça de gato, Deusa da alegria e da brincadeira. Os cananeus e fenícios reverenciavam uma Deusa chamada Rainha do Paraíso.

É importante lembrar que todas as Deusas tinham seus respectivos Deuses consortes. Masculino e Feminino Sagrados estavam sempre juntos. 

Um caso curioso  é o da Deusa do Paraíso dos cananeus e fenícios; cujo consorte - o Deus do Trovão - com um nome impronunciável composto por 4 letras (IHVH), ao longo dos tempos passaria por modificações e se tornaria o futuro Deus dos povos semitas (e mais adiante daria origem a três grandes religiões: o judaísmo, o islamismo e o cristianismo). 

Em todos os povos da antiguidade esta época era marcada por uma celebração do renascimento da natureza e do renascimento espiritual, homenageando suas respectivas Deusas com flores, um banquete, ovos coloridos, coelhinhos saltitantes... 



Mas como é que isso tudo foi se transformar na  Páscoa e na comemoração da Ressurreição de Cristo? 

Para ver a segunda parte, clique aqui.





Por que as Histórias e os Mitos nos encantam?





Sabe que contar histórias tem uma finalidade?
O processo de as contar é, em si mesmo, um processo curativo,
em parte por haver alguém que está ali a gastar o seu tempo
para lhe contar uma coisa significativa.

E está a gastar o seu tempo porque pode "estender uma mãozinha", 
ajudar na sua vida, talvez,
mas sem querer se aproximar para lhe dar conselhos.

Ou por outra, quer realmente dá-los, sim,
mas de uma maneira que se torne inseparável
de todo o seu ser - de você, que o escuta.

É isso que fazem as histórias.
Desde que as perceba e as assimile,
as histórias são diferentes dos conselhos 
porque se transformam numa das substâncias da sua alma.

É por isso que as histórias nos curam.

Alice Walker
(escritora e ativista americana, autora de "A Cor Púrpura")


Lembrando a todas, e especialmente às participantes do Grupo Mito e Psique, da função dos Mitos e Histórias para nossa saúde psíquica.



Ítaca



Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.

Nem Lestrigões, nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrará
se altivo for teu pensamento, 
se sutil emoção teu corpo e teu espírito tocar. 

Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo. 

Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda a espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.

A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinada a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca. 

Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velha enfim,
rica de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse. 

Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábia, uma mulher de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.


Konstantinos Kaváfis
(Trad. 
José Paulo Paes)


Na Mitologia Grega, Ítaca era a ilha natal de Ulisses, para onde ele voltaria ao final da Odisséia, mas aqui adquire um valor simbólico, uma metáfora da própria vida.

O poema foi escrito como se o leitor fosse um homem, tomei a liberdade de trocar para o gênero feminino em função do significado para nosso trabalho.

Para aquecer as participantes do novo Grupo: Mito e Psique que iniciará em setembro e compartilhar um pouquinho desta jornada com todas as nossas leitoras!

Qual é sua Ítaca? Como está sua viagem?