Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa - Que Mulher Extraordinária!

   
     Quem já leu o  maravilhoso Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, deve ter visto  a dedicatória: "Para Ara". Quem foi a mulher que inspirou esta obra-prima ?
       Aracy foi a segunda mulher de Guimarães Rosa e sua parceira num dos momentos cruciais da vida do casal: o salvamento de judeus no coração da Alemanha nazista.
     Em 1938 Aracy conheceu Guimarães Rosa no consulado brasileiro em Hamburgo. Por falar várias línguas ela tinha um cargo na seção de passaportes e bom trânsito no corpo consular.
     Nessa mesma época, entra em vigor a Circular Secreta 1127, que proibia a entrada de judeus no Brasil. Ela ficou indignada e ignorou a ordem e passou a fornecer vistos a quem lhe pedisse. Para conseguir a assinatura do cônsul, ela embaralhava os vistos no meio da papelada que ele assinava.
    Guimarães Rosa, então cônsul-adjunto, soube o que ela estava fazendo. E a apoiou (e se apaixonou) plenamente. Ambos passaram a ser investigados pelo serviço secreto alemão e pela embaixada brasileira, pois o governo Vargas ainda mantinha relações diplomáticas com a Alemanha. Ele foi denunciado como simpatizante dos judeus e fichado na polícia alemã.
     Aracy corria maior risco pois ela não tinha imunidade diplomática.  Mesmo assim, seus estratagemas cresciam em ousadia. Ela abrigava judeus em sua casa e os escondia no banco de trás do carro consular para cruzar a fronteira. Se  fosse pêga, seria morta.

     Um caso ficou especialmente famoso. Maria Margarethe Bertel Levy e o marido foram levados por Aracy a um navio, no qual embarcaram com o passaporte diplomático da brasileira. Ela levou as jóias do casal na própria bolsa, escondeu-as na caixa de descarga do sanitário do camarote e os aconselhou a só retirá-las em alto mar. Assim fizeram. Chegando ao Brasil, venderam as jóias e iniciaram uma nova vida.
     Anos depois Aracy e Margarethe se reencontraram e se tornaram amigas inseparáveis.
    Em 1942, o governo brasileiro rompeu com a Alemanha e ao tentar sair do país, Aracy e João foram presos em Baden-Baden por quatro meses, até serem trocados por diplomatas  alemães no Brasil.
    Aracy é a única mulher citada no Museu do Holocausto de Jerusalém como um dos 18 diplomatas que ajudaram a salvar vidas. Seu nome batiza uma avenida e um bosque em Jerusalém.
     No Brasil, abrigou artistas perseguidos pelo regime militar (de 1964 a 1985).  Ficou viúva em 1967 e nunca mais se casou.
     Morreu em São Paulo, em 3 de março de 2011, dez dias depois de perder a amiga Margarethe. Ambas tinham 102 anos.



Uma Mulher Extraordinária!



14 comentários:

  1. Querida amiga, já conhecia a história de Aracy , um pouquinho , e achei linda sua postagem.bjs

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  2. Uma vida extraordinária! É acreditar que pessoas assim existem que salva a humanidade.
    Lindo post.
    Beijo

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  3. Ei Cristiane,
    Que bela história! Não há conhecia. Uma pena não falarem mais de uma mulher como a Aracy. Pessoas que que como ela, mudaram a vida de muitas outras pessoas.
    Linda postagem.
    Beijos
    Lella

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  4. Que história impressionante, Cris! Símbolo de uma vida plena de amor e humanidade. Obrigada por compartilhar! Beijinhos, Paula

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    1. Oi Paula, fico feliz que tenha gostado do post. Eu também fiquei impressionada com essa história.
      Bjs

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  5. Oi Cris,
    Eu sabia a história da Ara, mas tinha me esquecido! Adorei reler. Bem que poderiam fazer um filme ou uma mini série sobre ela.
    Tenha um final de semana maravilhoso.
    Bjs

    GOSTO DISTO!

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  6. Nossa, extraordinária mesmo... Até me emocionei com a história...
    Acho tão lindo essas mulheres que foram praticamente heroínas...
    Sei que todas somos um pouco, mas elas... Ahhhh, elas desafiaram tantas coisas...

    Que bom que gostasse do livro...
    Não li até o final, mas ele tinha que ser teu...
    Aliás, desde o dia que eu comprei, Deus já devia saber que íamos nos encontrar um dia minha amiga... Vou te mandar um email...
    Beijoooooo e um finde iluminado!!!

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  7. Oi Cris,
    Então Fernanda Gaona é uma jornalista de São Paulo, achei várias coisas dela pela internet, e me identifiquei.
    Um beijo.

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  8. Engracado que eu nao sabia disso... eu sou judia e as vezes eu tendo a esquecer esse passado negro do meus pais...

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  9. Notável!
    Grande mulher, grande e longa vida!
    Obrigada por compartilhares, querida.
    Beijo

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  10. Caramba! Bem que você falou!!! Que alma extraordinária! Uma mulher assim é tudo o que um ser humano deveria ser - mas a maioria de nós só vai conseguir espalhar uma migalhinha de luz, enquanto ela é uma constelação inteira. Só podemos agradecer a Deus por ter nos dado esse tesouro da humanidade por 102 anos. Beijos e obrigada!

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  11. Oi Cris, sou brasileirissima sim. Nascida e criada, mas sempre tive uma consquinha de sair... Estou nos EUA tem 13 anos (uff, ate eu me assusto). Vim parar aqui por conta de um namorado que veio fazer faculdade aqui e depois de um ano namorando a distancia, vim fazer faculdade aqui tb. O namoro nao deu certo, ele voltou pro Brasil ha varios anos, e eu acabei ficando. Eu tb gosto muito de vc :) Um dos meus intuitos com o blog e o pq de eu ser extremamente privada em relacao a nacionalidade, religia, etc., e pq eu quero que o blog sirva como um meio de conhecer pessoas mas sem qualquer pre-nocao, pre-conceito do ser humano pelo que os olhos veem... mas baseado no que eu sou :)

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  12. Grande mulher! faz juz com tudo o que este blog representa...bjs

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  13. Nossa, que bacana! Nao conhecia a história!!
    Beijos!
    http://fernandahauagge.blogspot.com.br

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