O estupro coletivo foi o veredicto dado a Mukhtar Mai pelo jirga, um tribunal tribal, à margem do governo oficial . Qual crime ela cometeu? Nenhum.
Ao se apresentar perante o tribunal em defesa de seu irmão, que recebeu acusações de falar com uma mulher de casta superior, quatro homens do clã mastoi (casta superior) estupraram Mukhtar dentro de um estábulo, enquanto outros mantinham a cabeça de seu pai e amigos sob a mira de uma espigarda.
Com quase trinta anos, ela vivia com seus pais depois de se divorciar de seu marido. Ser uma camponesa, analfabeta e divorciada não a impediu de ensinar o Alcorão às crianças. Recebeu oralmente os textos passados pelo pai e decorou cada ensinamento. No dia do estupro, carregava o livro apertando-o contra o peito. Na cultura do Paquistão, uma mulher desonrada deve se matar.
Depois de estuprada ela foi jogada para fora quase nua. O pai a cobriu e a levou para casa. Quando chegou em casa se jogou em uma cama e não queria falar com ninguém e nem se alimentar. Assim permaneceu por três dias. A honra exigia que ela se matasse. Mukhtar pediu a mãe que trouxesse o pesticida. Os pais dela imploraram para que não fizesse isso. Ela rogou a Deus que a ajudasse.
No dia seguinte, o Mulá local fez uma sermão na mesquita de Mirvala condenando o estupro. "É preciso notificar a polícia!" - disse ele diante dos escandalizados homens da aldeia. Com o apoio do mulá Maulul Abdul Razzaq, quatro dias depois do acontecido, Mukhtar foi à polícia. Ela pensou: os mastoi podem me matar, mas não serei eu mesma a fazer isso. Ela escolheu a justiça ao invés da morte.
Graças a sua coragem de denunciar aqueles homens , sua história virou notícia no mundo. Nenhuma mulher paquistanesa, antes, havia se levantando contra os seus agressores. Ela se tornou um símbolo do direito das mulheres. Diante de tamanha publicidade, o governo passou a apoiá-la. Sua família recebeu proteção policial e uma promessa de rapidez no processo.
Graças a sua coragem de denunciar aqueles homens , sua história virou notícia no mundo. Nenhuma mulher paquistanesa, antes, havia se levantando contra os seus agressores. Ela se tornou um símbolo do direito das mulheres. Diante de tamanha publicidade, o governo passou a apoiá-la. Sua família recebeu proteção policial e uma promessa de rapidez no processo.
Muitos, inclusive mulheres agredidas, foram até Mirvala para conhecer Mukhtar Mai. Os depoimentos de outras mulheres a incentivaram a continuar a luta.
Entre as muitas visitas, Mukhtar recebeu a ministra federal para as mulheres: Attiva Inayatulah. "Recebi do governo a ordem de lhe dar esse cheque de meio milhão de rúpias" (US$ 8.200). Disse que não se tratava de um compensação, mas um símbolo do reconhecimento do sofrimento pelo qual Mukhtar havia passado. A ministra ficou chocada ao ouvir a declarção de Mukhtar: "Não preciso de dinheiro!" Depois de muita insistência ela recebeu o cheque dizendo: "O que preciso é de uma escola. Vou usar esse dinheiro para construir uma."
Entre as muitas visitas, Mukhtar recebeu a ministra federal para as mulheres: Attiva Inayatulah. "Recebi do governo a ordem de lhe dar esse cheque de meio milhão de rúpias" (US$ 8.200). Disse que não se tratava de um compensação, mas um símbolo do reconhecimento do sofrimento pelo qual Mukhtar havia passado. A ministra ficou chocada ao ouvir a declarção de Mukhtar: "Não preciso de dinheiro!" Depois de muita insistência ela recebeu o cheque dizendo: "O que preciso é de uma escola. Vou usar esse dinheiro para construir uma."
Mukhtar se apresentou diante do juiz e dos catorze homens mastoi algemados e contou como foi estuprada. O veredicto saiu em 31 de agosto de 2002. Seis dos mastoi foram condenados à morte por sua participação no ataque. Oito foram libertados. Mukhtar poderia ter se mudado de Mirvala com sua família. No entanto, ela tinha um sonho. Uma escola. Ela queria construir um futuro diferente do seu para aquelas meninas.
Ela descobriu durante sua dura caminhada, desde o dia em que resolveu denunciar seus estupradores, que a educação podia fazer a diferença. Ela percebeu que aquelas pessoas que a ajudaram, tinham educação e isso dava poder à elas. Não seria fácil. Como convencer aos pais a matricular suas filhas na escola em um pais em que as mulheres não frequentam escolas? Ela foi de porta em porta. Depois de um tempo algumas poucas famílias autorizaram a matrícula. Mukhtar se sentava ao lado das crianças para também aprender.
O dinheiro começou a faltar. Ela vendeu alguns poucos bens que possuia para manter a escola. Quando sua história foi noticiada, muitas doações chegaram. Em um ano ela abriu uma escola para meninos em Mirvala e uma outra para meninas em uma aldéia próxima. Mais de setecentas crianças de todas as castas estudavam juntas na nova escola, inclusive crianças do clã Mastoi.
As escolas eram apenas parte do milagre. À medida que a história de Mukhtar se espalhava, mulheres começaram a aparecer em sua porta. Elas tinham cicatrizes horríves, foram espancadas, mutiladas e queimadas com ácido. Era o castigo pelo suposto adultério. Comovida com aqueles depoimentos, Mukhtar criou o Centro Mukhtar Mai de Assistência à Mulher.
Os Mastoi apelaram. Em 5 de março de 2003 cinco dos seis mastoi condenados haviam sido absolvidos e foram postos em liberdade. O sexto teve sua pena comutada para prisão perpétua. Ela não desistiu e apelou o novo veredicto. Apoiada pelos ativistas dos direitos humanos, ela conseguiu fazer com que eles fossem presos novamente . Estão aguardando novo julgamento.
Com as escolas e o Centro de Assistência, essa camponesa, contra todas as probabilidades, salva mulheres dando à elas uma nova oportunidade.
Reflita sobre as palavras desta magnífica mulher:
"Sou só a primeira gota d'água, mas a chuva virá. E muitas gotas de chuva acabam formando um grande rio."
"Sou só a primeira gota d'água, mas a chuva virá. E muitas gotas de chuva acabam formando um grande rio."
Conheça mais sobre o seu extraordinário trabalho, visitando o site oficial: www.mukhtarmai.org.
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