Este é o lindo conto escrito pela querida Grinis Miyashiro, que nos inspirou no encontro de Maio.
Era a Vovó Pérola. E, desde o sempre de antes – porque um dia ela se tornou a moça das pérolas mágicas – ela fora a Vovó Pérola. Era, pois, do momento em que seus dedos começaram a lhe permitir a habilidade fina de alinhar continhas em fios – de todos os tipos bonitos e coloridos – passou a colecionar inúmeras contas e pedrinhas, assim como todo bom colecionador que coleciona tudo, com medo de que a memória possa tropeçar no fio da idade.
Acontece que aconteceu dum modo inesperado, que um dia as continhas se revoltaram, como todos em algum momento se revoltam na vida, ou com a própria vida, mesmo. Vovó Pérola sempre dizia que não se podia, nunca, dizer que a vida não era boa. Ela dizia que a vida, que também tinha vida, podia, um dia, querer se revoltar. Nesse dia, as danadas das contas não queriam saber de caírem quietas no fio. Vovó pensava que elas dariam um bom colar dum jeito, mas não é que elas se desprenderam da linha? Caíram todas. Vovó, que também era dura na linha, teimou e recolocou-as do modo tão desejado. Quando terminou, após tanto sacrifício, considerou mais adequado nunca usar o colar, pois os fios estavam já muito desgastados, assim como suas mãos.
No meio daquela mesma noite, num ato repentino e meio amalucado para uma senhorinha já de idade, Vovó puxou com toda a força de seus 70 anos a última pedrinha que segurava o nó do colar e todas se foram contentes pelo chão.
Não se sabe, com certeza, o que acontecera àquela Vovó, apenas que um sonho com pérolas mágicas lhe teria introduzido idéias bem lúcidas. Hoje, vovó conta que coleciona idade, e, com ela, experiências – e que só assim se consegue a eternidade. "Mas, experiências, meu filho, não se pode botar numa linha" – até hoje ela diz e até hoje muitas contas pelo mundo tentam se rebelar para também, um dia, tornarem-se contos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário