Recordo o terror das primeiras rugas
Pensar: Agora sim, chegou a minha hora.
As linhas do sorriso marcadas sobre meu rosto
mesmo em meio à mais absoluta seriedade.
Eu, frente ao espelho,
tentando dissolvê-las com minhas mãos
alisando as bochechas vez após vez,
sem resultado.
Logo foi a mirada furtiva do meu reflexo nas vitrines
perguntando-me se a luz do dia as tornaria mais evidentes,
se quem me observava na calçada
estaria censurando minha incapacidade
de manter-me jovem,
incólume diante do passar do tempo.
Vivi estas primeiras marcas da idade
com a vergonha de quem falhou.
Como uma estudante que é reprovada no exame
e deve caminhar pelas ruas
com as más notas expostas a todos.
Nós mulheres nos sentimos culpadas por envelhecer,
como se passada a juventude e a beleza
nada nos restasse e nos tornássemos inúteis,
devendo sair e deixar espaço para as jovens,
para os rostos e corpos inocentes
que ainda não conheceram o pecado
de viver além dos trinta ou quarenta.
Não sei quando me dispus a me rebelar,
a não aceitar que só me concedessem como válidos
os dez ou vinte anos de pele de maçã;
a me sentir orgulhosa dos sinais
de minha maturidade.
Agora,
graças a estes pensamentos,
cada vez me detenho menos
em frente ao espelho.
Passo por alto
a aparição das inevitáveis linhas
no mapa da vida em meu rosto.
Depois de tudo,
a alma,
afortunadamente,
é como o vinho.
Que me beba quem me ame,
que me saboreie.
Gioconda Belli
Poeta e escritora nicaraguense
Olá Cristiane,
ResponderExcluirLindo texto, uma ótima leitura para começar meu dia.
Beijo e boa semana.
Saber conviver e aceitar nossas rugas é o melhor que podemos fazer. O oposto só nos prejudica! bjs, chica
ResponderExcluirOi Cris,
ResponderExcluirLindo d+! Preciso dizer que vai para os links legais?
Bjs
Olá, Cristiane, não há como mudar a ação do tempo, o melhor é aceitar!
ResponderExcluirNão sou muito de me olhar no espelho, talvez por isso, não tenho essa preocupação...
Amei o poema escolhido, porque a alma, essa sim, preciso conduzi-la, sabiamente!
Obrigada, abraços carinhosos
Maria Teresa
Passei por tudo isso que a Gioconda Belli (sou fã) descreve no poema. Também me rebelei, não me importo mais em envelhecer. Ainda sou um pouco reticente com os cabelos brancos, mas preparando-me psicologicamente para não tingir mais. Muito bom esse post, grata.
ResponderExcluirAbraço.
Olá Cris:
ResponderExcluirEstou beirando os 50, mas sem crises, rsrrsr.
Creio que a vaidade feminina deve ter seus limites.
Precisamos sim cuidar da saúde e do nosso bem-estar.
Entretanto, acima de qualquer coisa, a paz de espírito deve ser priorizada sempre!
Bjokas.:
Sil
Ah!Coisa mais linda!
ResponderExcluirAceitar com dignidade a passagem do tempo é divino!
Descobrir a beleza de "cada tempo" é uma arte!
Obrigado por compartilhar beleza e sabedoria!
Feliz semana!
Acho que todas as "estações" da vida, devem ser vividas e aceitas com todas as suas características.
ResponderExcluirPra mim as rugas, são marcas do tempo vivido... Não me incomoda o aparecimento delas.
Lindo poema, obrigada por compartilhar!
Cris, eu removi sem querer um comentário seu lá no blog.
Desculpa tá? Meu dedinho faz coisas incríveis no tablet rsrs
bjus amiga, boa noite!
Como diz uma amiga, "é o que temos para hoje". Belo texto! Tenho um grupo de amigas em torno dos 50. Vou compartilhar! Abraço!
ResponderExcluirOi Cris gostei do texto, estou vivendo todo esse momento.
ResponderExcluirFilhos que diz: "nossa mãe você não é mais a mesma" damos
um sorriso fazemos uma brincadeira e assim vamos dando conta
que nosso tempo está passando. Hoje já sou vovó e no futuro bisa kkkk..