Os Limites da Raiva e do Perdão - Parte 2


E então,  como fica a questão da raiva e do perdão?

A raiva é um sentimento inerente à condição humana. Ela tenta nos avisar que perdemos o controle sobre uma pessoa ou situação. Reflete algo que precisa de atenção. Não é boa nem ruim, depende do uso que faremos dela.

Por trás da raiva geralmente há dor ou medo que temos dificuldade de encarar. Achamos que é mais fácil encobri-los com raiva, já que ela aparentemente nos deixa mais fortes. Só que essa força é uma ilusão, pois a energia é retirada do nosso interior e direcionada para fora, o que nos deixa exaustas.

Quando ficamos bravas com uma pessoa, achamos que estamos recuperando o controle, mas o que de fato acontece é que estamos perdendo o controle de nós mesmas.


A melhor estratégia é ser uma observadora da sua raiva e verificar se está relacionada a algo vital que necessita de reparação. Ou o contrário, se era desnecessária ou fruto de um mal entendido. Afaste-se um pouco e  contemple a natureza ou um horizonte mais amplo, permita-se tempo para examinar a questão. As etapas descritas na parte 1 deste post podem ser de grande ajuda.

A raiva sempre pede um ato reparador do outro ou de nós mesmas para que se restaure o equilíbrio e possa acontecer o perdão.

Diferente do ódio, que não busca reparação nem melhora da situação, mas apenas a destruição do objeto ou do outro. E neste caminho a pessoa acaba destruindo a si mesma. O ódio é o polo extremo do princípio do poder e da ausência de amor.


O Perdão é a saída para a raiva. Inclusive e principalmente o perdão de nós mesmas! Ele não é uma graça, algo que cai do céu, nem algo que simplesmente acontece, ele é um ato de criação. Talvez o mais poderoso ato de criação que podemos realizar…

As pessoas acreditam que o perdão é absoluto, ou tudo ou nada, que perdoar é esquecer, ou fingir que não aconteceu e etc…Isto é pura fantasia, talvez seja real para alguns santos iluminados, mas não para a maioria dos seres humanos. Não é à toa que o capítulo diz: os limites da raiva e do perdão...

Por ser um ato de criação, podemos decidir: 

se precisaremos de um ato reparador para isso, 
se vamos perdoar até que o fato aconteça novamente, dando uma segunda chance,
se perdoamos, mas percebemos que aquela pessoa/situação não nos faz bem e nos afastamos,
se não podemos perdoar agora, mas talvez um dia,
se vamos simplesmente esquecer…

O perdão tem muitas camadas, várias estações, e todas são válidas. O importante do perdão é começar e persistir pois o  processo é longo, mas o resultado é profundamente transformador.


Como você sabe que perdoou? Quando passa a sentir tristeza ao invés de raiva. Você passa a compreender o sofrimento que causou a ofensa, prefere se manter fora daquele meio e não espera por mais nada. 

Com o tempo passa a não pensar mais tanto naquilo, sente que a vida começa a seguir seu curso e volta a brilhar.


P.S.: Vou fazer um post sobre as camadas e estações do perdão, aguardem.

Correndo com Lobos - Capítulo 12 - O Urso da Meia Lua - Os Limites da Raiva e do Perdão - Parte 1

Tela de autoria de Eliana Atihe

Chegamos ao Capítulo 12, o ponto culminante de todo o livro! 

Ganhamos este lindo presente da querida amiga Eliana Atihe: a tela ilustrativa da história que você pode ver logo acima.

Foram quatro horas de trabalho intenso, e seria impossível resumir aqui tudo o que discutimos e experimentamos nas vivências, mas vou tentar dar umas dicas.

Baseado no folclore japonês do século VI, é um Conto de Revelação, que permite um grande salto na consciência. Se você não tem o livro, pode ler o conto aqui.

Do ponto de vista simbólico, todos os personagens são aspectos da personalidade de uma única pessoa, portanto o conto nos ensina as etapas que devemos percorrer para cuidar dos aspectos feridos de nossa alma.


1 - encontrar uma força calma e restauradora dentro de si mesma através do silêncio, do aquietamento, do contato com a natureza ou do contato com alguma pessoa sábia. No conto, esta força é representada pela curandeira.

2 - acolher e amar seus aspectos feridos, o que se traduz em coragem para aceitar o desafio necessário para a cura. No conto, isto é representado pelo amor da mulher ao seu marido ferido na guerra, e a coragem para subir a montanha e encarar o urso.

3 - reconhecer as ilusões, agradecer e deixá-las ir. Perceber quais crenças limitadoras nos acompanharam até aqui e permitir a abertura para uma compreensão mais profunda sobre nós mesmas. No conto, isto é representado pela reverência que  a mulher fazia a tudo, e as árvores afastavam seus galhos para que ela passasse.

4 - dar descanso aos nossos mortos: velhos sentimentos, arrependimentos, possibilidades não vividas…é preciso fazer o luto do que não pudemos realizar e permitirmos o desapegar, para que a vida continue e algo novo possa surgir, e isto exige tempo.  É representado no conto pelos fantasmas dos mortos que não tinham família para sepultá-los, e o gesto da mulher que pára no caminho para orar e dar descanso a cada uma dessas almas, mesmo que atrasasse um pouco sua jornada.

5 - agradar ao grande Self e o reconhecimento do lado selvagem da psique. No conto, isto é representado pelo cuidado e pela estratégia na aproximação ao Urso. Lembrando que o Self tem o polo abstrato (mental) e o polo instintivo (físico - representado pelo Urso), e ambos precisam ser honrados.

6 - trazer todo este conhecimento para a vida real. Simbolizado pela curandeira que queima o pelo branco do urso e manda a mulher repetir com o marido tudo o que tinha aprendido nessa jornada.


Todas as vivências foram realizadas com base em práticas de cura ancestrais, fizemos um aquecimento para liberar as tensões e a raiva contida, harmonização com a respiração da árvore e depois passamos para o movimento autêntico.

Você pode ler o lindo poema coletivo que surgiu à partir da vivência aqui.

Terminamos com uma vivência para a criação de um talismã para cada uma. 

Lembrando o sentido original dessa palavra: talismã é um objeto que nos lembra de um aprendizado de valor inestimável, que nos lembra da nossa própria conexão com a totalidade.

Mas afinal, onde entram os limites da raiva e do perdão? Você vai ver na segunda parte!


Prática Para Lidar com o Medo e a Raiva



     Esta é uma prática simples que ajuda muito quando estamos com dificuldade de lidar com um problema ou questão que nos causa raiva ou medo. Ela é feita em pé.
 1 - Respire normalmente. Perceba como está sua respiração e como está o seu corpo.

 2 - Inspire elevando os braços até a altura do peito. Cerre os punhos  e prenda a respiração. Mantendo os pulmões cheios, soque o ar com força imaginando que a fonte do seu medo e/ou sua raiva está diante de você. Imagine que tem um saco de areia na sua frente. Bata com vontade, o ar não machuca.

 3 - Quando quiser soltar o ar, solte de uma vez pela boca com um soprão e relaxe soltando todo o corpo à frente. Volte lentamente à posição inicial. Se quiser, pode soltar o ar com um som como “Ah!” em voz alta.

Não prenda a respiração por muito tempo pois pode causar tonturas. Somente o tempo que você normalmente aguenta, sem forçar.

Repita este exercício de três a cinco vezes e depois observe como ficou sua respiração e o seu corpo.  Finalize com três respirações profundas. 
Se quiser aumentar seu bem estar,  faça a Respiração da Árvore (aqui), é uma delícia.

Esta prática traz grande alivio... 
Conseguimos lidar melhor com o problema, com mais clareza e centramento. E o medo e a raiva foram embora!


Filme - A Outra Face da Raiva


                      A outra face da Raiva                     
Kevin Costner e Joan Allen
Imagem Filmes - 2004


Este filme é o indicado como complemento do Capítulo 12 - O Urso da Meia Lua, para o grupo Correndo com Lobos, mas é tão lindo e traz tantos insights que decidi compartilhar com vocês.

Conta a história de uma mulher  cujo marido desaparece subitamente sem qualquer explicação. É muito interessante para mostrar como a raiva turva nossa visão e impede que percebamos a realidade. 

Ela, que era doce e meiga, vive um turbilhão de conflitos dentro de si, levando-a a  ter alguns comportamentos destrutivos.  

Cada uma das filhas está passando por um momento especial. Só que a mãe está completamente consumida pela raiva e a dor do abandono e não consegue perceber, não consegue olhar para nada além de si mesma.

As filhas se unem, cuidando umas das outras e tentando lidar com a situação da melhor forma possível, mas isso também desperta conflitos interiores e cada uma reage de uma forma diferente.

Surge então um vizinho inconveniente (Kevin Costner), que vai interferir bastante nesta dinâmica e terá um papel muito importante...

A história toda é contada pela filha caçula, que está entrando na adolescênciaEla é a pessoa que tem a visão mais clara da situação e as falas mais bonitas do filme. 

Embora toque em temas delicados, tem humor e um final  surpreendente!

Tem no YouTube, dublado em português e com boa qualidade. Clique aqui.

Belíssimo. Recomendo a todas.



Tempo de Cura


Finalmente, 
no meu caminho para o Sim,

Deparei-me com todos os lugares
onde disse Não para minha vida.

Encontrei as feridas não cuidadas
e as cicatrizes vermelhas e roxas,
aqueles hieróglifos de dor
esculpidos em minha pele,
em meus ossos.

Aquelas mensagens codificadas
que me desviaram para o caminho errado
muitas e muitas vezes.

Quando encontrei
as velhas feridas,
os velhos desvios,
eu os levei um a um
perto do meu coração,
e abençoei: Sagradas,
Sagrados.

Pesha Joyce Gertler
Escritora e Poeta Norte Americana


Agradeço o carinho durante minha ausência, em breve retribuirei as visitas.