O Que Estou Excluindo? - Histórias que Curam


Depois de muito tempo de meditação não queria mais respostas pequenas; queria a grande resposta. Então pedi ao mestre que me levasse diretamente à Casa de Deus.

Sentei-me, disposto a esperar pela grande resposta. Fiquei em silêncio o dia todo e boa parte da noite. Eu o olhei nos olhos porque Ele estava me olhando nos olhos.

Tarde da noite, achei que tinha ouvido uma voz: "O que você está excluindo?"

Seria minha imaginação? A voz parecia estar em toda parte, sussurrando, rugindo: "O que você está excluindo?"

Estaria enlouquecendo? Levante-me e corri para a porta. Precisava do conforto de um rosto humano ou de uma voz humana. Lá perto havia um corredor onde viviam alguns monges. Bati em uma das celas:

"O que você quer?" perguntou uma voz sonolenta.
"O que estou excluindo?"
"A mim."
Bati na outra porta.
"O que você quer?"
"O que estou excluindo?"
"A mim."
Bati na terceira porta, na quarta, tudo a mesma coisa.
Pensei: Eles só pensam em si mesmos...Saí do prédio desgostoso. 

O Sol estava nascendo. Eu nunca havia falado com o Sol, mas perguntei: "O que estou excluindo?"

"A mim." Foi o que o Sol respondeu. Isso liquidou-me.

Joguei-me no chão. A Terra disse: "E a mim também."

Frei Theophane
monge trapista

Esta é uma das histórias que utilizamos para ilustrar os conceitos básicos da alquimia no Grupo Aion.

Não há felicidade possível se não reconhecermos a unidade de todas as coisas, inclusive dentro de nós...

O que você está excluindo?



As Coisas que Você Mais Ama...


Imagem enviada pela querida Loba Melissa, da nova turma do Curso Correndo com Lobos.


À medida que lia o início da pergunta vieram várias coisas em minha mente, 
mas quando cheguei no final...

E você, quanto tempo demoraria para responder?




Ingênua ou Inocente? Qual a Diferença?

arte: Ale Passarim

O post anterior despertou a curiosidade de muitas mulheres que não conseguiram diferenciar uma da outra. E então?  

Bom, vamos desfazer esse nó...

Ingenuidade vem do latim "ingenuitas", que significa não saber, não conhecer.

Esta é uma característica da criança, que precisa aprender sobre o mundo e necessita de um adulto que a ampare e proteja, que a oriente. Ela desconhece o mal e se não for cuidada pode correr riscos ao ficar exposta a perigos no ambiente e à maldade alheia.

Inocência vem do latim "non nocere", que significa, não lesar, não fazer mal. Ela é uma qualidade do adulto e das pessoas sábias. Significa que a pessoa aprendeu sobre o bem e o mal, conheceu a alegria e a tristeza, experimentou o mundo e conscientemente escolhe o bem, conscientemente escolhe o amor. A inocência envolve sempre uma escolha consciente.

Veja a diferença: na ingenuidade estamos à mercê do ambiente e dos outros, presas à reatividade; na inocência somos livres para fazer escolhas conscientes.

Nossa sociedade valoriza a ingenuidade como se fosse uma virtude. Ouço tantas mulheres dizendo: Sou ingênua, sou do bem, e os outros é que me fazem mal...

Querer manter-se ingênua é recusar-se a ser uma mulher adulta.

Algumas justificam-se: Ah...mas eu não quero perder o olhar ingênuo da criança para o mundo...Não quero perder o encantamento pela vida...

Como se ao deixar de lado a ingenuidade, a vida deixasse de ter graça. Mas é justamente o contrário!

Na inocência, o encantamento é ainda maior, porque compreendemos a efemeridade da vida e valorizamos cada momento, cada gesto de carinho, cada experiência de beleza.

Mas sabemos nos proteger, não nos expomos a situações ou relacionamentos que nos façam mal, percebemos melhor a natureza humana e agimos com sabedoria.

Não se trata de negar nossa criança, nosso lado lúdico, mas de andar de mãos dadas com a velha sábia. Caminhando alegremente pela vida: a sabedoria e doçura da velha com a vitalidade e frescor da criança.

Este é o nosso caminho.

A querida amiga Marisa Giglio deu uma definição maravilhosa para estas duas características na vida adulta: 

"A inocência traz a luz e a ingenuidade a escuridão."

E agora, ingênua ou  inocente?







Respeitar a Inocência das Coisas


"Muitas vezes somos nós que não deixamos a vida ser simples. Por que precisamos espremê-la, mordê-la e arremessá-la  contra o que nos convencemos serem nossos grandes poderes racionais? Nós violamos a inocência das coisas em nome da racionalidade para podermos seguir sem interrupção... Vamos respeitar o caráter sagrado do inexplicável."

Marlena de Blasi
In: Mil Dias em Veneza

Este post foi inspirado por nossas conversas no grupo Correndo com Lobos, sobre a diferença entre ingenuidade e inocência. 

A ingenuidade não é um atributo da mulher selvagem, mas a inocência sim.

Sabe diferenciar uma da outra? 




O que é Curar-se?



“Não se queira curar a parte sem tratar o todo. 
Não se queira curar o corpo sem tratar também a alma…
este é o erro dos nossos dias, 
os médicos separarem a alma do corpo.”

Platão
Filósofo Grego
427-347 a.C.

Em português, associamos a palavra Curar a recuperar a saúde, mas ela também significa secar ou defumar um alimento (curar um queijo, por exemplo). Mostrando que a  cura é um processo, e tem relação com o tempo e o amadurecimento.

A palavra inglesa heal (curar) deriva do termo anglo-saxão halque significava “todo”, mas também “saudável” e “sagrado”. Isto já nos dá uma idéia da relação entre saúde e totalidade.

Se corpo, mente e espírito estiverem dissociados, não é possível haver cura completa. Uma alma doente manifestará seu desassossego na forma de sintomas físicos.

Os pensamentos e sentimentos que alimentamos em relação ao mundo e a nós mesmos são a principal causa  do sofrimento.

As doenças geralmente são mensagens que recebemos, dizendo que estamos em desarmonia, que algo precisa ser mudado. Quando entendemos o recado, a doença vai embora. 

É como diz uma médica oncologista que admiro muito:  “ A doença é um grito que a vida dá para avisar que estamos indo pelo caminho errado. A intensidade do grito será proporcional  ao grau de surdez da pessoa." 

Enquanto ficarmos “brigando com a vida”, nada acontece. Somente quando ocorre aceitação pode haver transformação.

A Cura pode ser vista também como um processo iniciático, pois no final não somos mais as mesmas, fomos transformadas, e invariavelmente descobrimos em nós uma força que desconhecíamos.

Então, curar-se é voltar a ligar-se com a alma. Na essência da cura há amor e compaixão. 

Como disse Sakyamuni Buda: “Da doença surge a mente que busca O Caminho.”

Pense nisso…e cuide do que precisa ser Curado em sua vida com delicadeza e amor.