Tem uma paineira perto da minha casa. Pela janela da sala, assisto à sua copa passando pelas estações.
Quando me quero planta, me imagino uma delas. Prima das sumaúmas, ela fornece painas que dão colo para pássaros em ninhos primaveris. A árvore parece contraditória. Talvez por isso seja tão interessante. Espinhos cobrindo o tronco contrastam com a leveza do algodão e das flores cobrindo a copa. Os espinhos servem para proteger a espécie e impedem a subida de mamíferos e répteis, cuidando dos pássaros que se alimentam dos frutos e sementes lá em cima.
Parece que, quando jovem, seus espinhos são mais evidentes. Com a altura e a idade, eles ficam mais brandos. Será que com as pessoas também acontece assim?
Quando os espinhos se esticam muito, eles trocam de função: deixam de ser defesa e passam a ser desesperança. É como quando deixamos que as experiências difíceis enruguem as ternuras. O algodão e a flor ficam esquecidos lá no alto, enquanto só nos ocupamos com a nossa fileira afiada de espinhos.
Mas há também as pessoas que conseguem manobrar as experiências de um jeito, que a anatomia ganha outro contorno. Elas acreditam que as experiências servem para aprender amplitudes. E dentro das amplitudes cabe um montão de coisas.
É o tipo de gente que cuida ao mesmo tempo de espinho, flor e algodão. Às vezes, cuida mais de uma coisa e, às vezes, mais da outra. Mas, enquanto experimenta a vida, continua crescendo. E, de vez em quando, consegue ter uma vista tão boa lá do alto da sua altura, que já se sente forte o suficiente para se proteger sem precisar de tanto espinho. Igual à paineira.
Quanto mais alta e mais experiente, menos espinhos.
Quando me quero planta, me sonho uma delas.
Texto: Sibelia Schuler Zanon
Imagens: Pinterest
Cris e suas escolhas sensíveis, irrevogáveis e partilhadas. Tudo de maravilhoso em dobro pra você.
ResponderExcluirMuy buena reflexión. Un cordial saludo.
ResponderExcluirBuen ejemplo y estupenda reflexión. Muchas gracias. Feliz semana. Saludos.
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